sexta-feira, 29 de maio de 2009

Jogo da Memória


Dona Teresa, tem 85 anos então é chover no molhado dizer o que ela já viveu . O melhor é contar o que ela tem vivido. Vaidosa, poderosa e com um espiríto que não se dá conta da idade que tem , vive saracoteando e aprontando por ai, onde muitas vezes deixando os que estão ao lado de cabelo em pé .

Nem sempre é sábia em suas decisões, mas outro dia me contou uma história sobre o que tem feito para resolver o problema de memória. Falou isso com muita certeza de que seria o melhor remédio pra mim, já que me viu por diveras vezes procurando as minhas chaves que insistem em sumir, sempre que preciso delas.

Eu tenho um sonho recorrente de que um dia alguém há de inventar um chaveiro que grite pra você :

- " hei tô aqui ...fiu fiu linda ...vem vem me pegar "

Enquanto isso não acontece Dona Teresa me disse o que anda fazendo para driblar esses pequenos esquecimentos.

- "olha minha filha agora não perco mais tempo e nem fico mais nervosa.Se deixo uma coisa aqui e depois não me lembro mais onde deixei. Eu falo assim pra ela:

- Olha aqui dona tesoura, quando a senhora estiver disposta a trabalhar a senhora apareça. Ai finjo que nem mais estou ligando pra ela e derepente olho em cima da mesa e a vejo , passo e digo .
- Ah agora a senhora tesoura quer conversa comigo !! "

E eu fiquei cada vez mais interessada por essa técnica.

Dona Teresa continuou me contando ...

- "Sabe que outro dia, eu precisava sair e queria uma calça branca que não achava de jeito nenhum. Sentei na cama, abri o armário e falei assim:

- Ah dona calça! A senhora tão elegante e bonita vai querer ficar ai trancada dentro do armário? Não vai querer passear ?? O dia está tão bonito lá fora. Vamos ficar nós duas aqui sem fazer nada ??

- É não é que ela apareceu rapidinho ...kkkkkkkkk " . Ela ria, da atitude da calça e não da conversa que ela acabara de ter com as roupas do seu armário.

Na mesma hora resolvi esquecer o São Longuinho, os 3 pulinhos e o negrinho do pastoreiro .

Comecei a tratar melhor a minha chave. E que o melhor remédio seria ter um bom argumento para ela me achar, caso desaparecessem de novo.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Babosa













A família toda tinha mania de ter receitas para tudo.

Sempre tinha alguém que sabia algo que era bom para alguma coisa. Parecia que todos tinham um arquivo pessoal de dicas e soluções para todos os males. E ela foi crescendo assim. Da avó massagista a irmã que benzia desde criança as visitas que chegavam na casa. Era uma casa muito engraçada, tinha teto e tinha tudo.

O pai tinha uma relação típica com o bem estar. Bem estar para ele, estava ligado às funções fisiológicas e ao tempo. Se o relógio biológico funcionasse corretamente e não estivesse chovendo, o dia estava fadado a ser ótimo.

As conversas sobre isso, faziam parte do cotidian0 da familia.

_ Oi pai, tudo bem ?? Deu tudo certo no médico ?? perguntava uma das filhas, enquanto a outra filha do meio, escutava a resposta.

_ Oi filha, deu tudo muito certo hoje. Eu acordei às 5 horas, rezei direitinho, sabe, não daquele jeito que às vezes eu durmo no meio e tenho que começar de novo.Rezei com começo, meio e fim.

A filha que perguntará, não se importava com esses comentários costumeiros e já a outra ficava pensando:

_ Por que será que ele tem que começar de novo ?? por que não continua de onde parou?

_ É pai, e como foi no médico ? Continuava ...

O pai que gostava de completar ciclos seguia contando:

_ Levantei tomei meu café, esperando as coisas funcionarem. A filha do meio já pensou:

_ Ah ele não vai contar isso! Ela tinha aversão a assuntos ligados a produtos pessoais e intransferíveis. Mas ficou calada, era paciente.

A primeira, resolveu dar corda, mesmo sabendo das aflições da outra. Se divertia com isso.

_ É pai, funcionou tudo legal ? Ah que bom ...e o médico o que disse?

_ Você não imagina a minha preocupação... mas eu fui muito positivo desta vez.

Não podia ficar pior, pensou a irmã. Mas ficou .

_ Depois que tomei o café, minha barriga já começou a funcionar e foi uma beleza, sabe aquele jeito gostoso que você pode ficar sossegado o resto do dia.? E também nao choveu.Perfeito.

_ UGHT! Neste momento a filha do meio já não suportava mais a conversa e saiu.

E assim, a história do médico ficou completamente sem importância perto do momento cocô do pai.

Desta forma ela foi criada, não havia assuntos íntimos que não pudessem ser compartilhados. Tudo parecia natural.

Uma tarde estava trabalhando em casa. Estavam em 3 naquele dia, quando o Nextel tocou:

_ Oi pode falar ?? era um Cliente

_ Claro, tudo bem ? respondeu ela animada

_ Temos que cancelar a reunião de amanhã.

_ Ah que pena !! Por que ?

_ Eu não estou muito bem. Ela poderia ter parado a conversa por ai, mas não parou. A herança familiar era mais forte do que ela.

_ É mesmo o que você tem?? Uma virose?? Ih tem muita gente tendo mesmo . Deduziu e perguntou toda preocupada.

Neste momento a companheira de trabalho já levantou as antenas. Era um Cliente importante e todo cuidado era necessário.

Ele, que devia estar atordoado pela dor, respondeu de pronto:

_ tenho hemorróidas e ela está me mantando

Ela era era rápida no gatilho, nem precisou pensar:

_ Nossa deve ser muito ruim mesmo ! Sabe que o meu pai se curou com a babosa.

Nesta hora a amiga que tinha voltado a trabalhar, levantou os olhos do computador e achou que era impossível estar ouvindo esse dialógo e resolveu prestar atenção.

_ É não tô aguentando mais. É desesperador, você não tem posição . Ele continuava desabafando .

_ Tenta não custa. Ele me disse que você pega a babosa, lava bem lavadinha, depois você corta e vai passando ...

Neste momento a amiga já estava completamente transtornada e já começava a urar.

_ Não acredito! Não acredito ...

O outro companheiro estava mais entretido e preocupado com o trabalho. Tinham que entregar uma proposta importante e aquelas duas malucas não paravam de falar no celular , no rádio e ele só queria acabar e se mandar dali...

_ O que você nao acredita?? falava ele enquanto teclava sem tirar os olhos do monitor

_ Ela tá ensinando o cara a passar babosa no c...

_ C... de quem ?? do que vc tá falando ??

- Do Cliente, ela continua explicando, ouve . Enquanto ouviam , ao mesmo tempo, já começava a acenar para a boa intencionada, desesperadamente. Estava roxa e com uma riso nervoso incontrolável .

De repente todos os teclados ficaram parados.

- Então você entendeu depois que você cortar a babosa, dá uma espremidinha e aquele baba que sai da folha você usa. Explicava detalhadamente, igual o pai gstava de ensinar.

_ Meu Deus !! Ela ensinou mesmo o cara a passar babosa no c...

Como os dois olhavam fixamente para ela.

Ela soltou o botão da comunicação do rádio e perguntou com a maior cara:

- What ?? O que foi ..o que vcs estão olhando

A amiga que já nao aguentava mais de tanto rir, falou pra ela:

- Você se deu conta do que acabou de fazer ?? rindo muito

- O quê ?? totalmente sem noção

_ Você estava ensinando o Gerente da Empresa a passar babosa no c...

_ Ah é isso ?? Falou baixinho , não se preocupe não tem contra indicações é fitoterápico . Respondeu tranquilamente e voltou para o rádio.

_Bom acho que é isso. Tenho certeza de que você vai melhorar . Vc não imagina como meu pai ficou aliviado . Quando melhorar me liga, remarcaremos. Um abraço

Quando ela desligou o amigo já tinha fechado o notebook e já se dirigia para porta enquanto a outra já estava rolando de rir no chão.

Ela perguntou como quem nao está entendendo nada .

_ Por que essa maluca não pára de rir e onde você vai ?? Era só o Cliente avisando que não vai ter reunião. Vamos continuar...

A outra faz ela se dar conta do que ela acaba de fazer ...as duas amigas começam a rir de engasgar.

O baixinho pega sua mochila e sai balançando a cabeça, mal humorado ...

_ E eu com C... dos outros ?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Outono

Pode ser no Japão, Vermont, Rio, São Paulo ou Bahia, outono foi a eleita. Minha estação preferida.


Descobrir que existe a possibilidade de se sonhar em passar um outono em cada lugar onde haja esse árvore Maple, com essa folhas que mudam de cor como eu mudo de roupa, de pensamentos e certezas, é muito estimulante.


Você já pensou nisso, um roteiro para cada outono até o final dessa vida ?


No outono a luz é diferente, o sol é mais brilhante, as folhas caem e tudo bem, depois elas vão nascer de novo. E não é assim que é a vida ?? Em ciclos.


" Espécie escolhida para ser a mão do ouro ... o outono traduzir viver o esplendor em si "


A "Maple tree", a espécie escolhida, também de lindona colorida fica seca e feinha. Quando ela floresce novamente ninguém lembra dos seus galhos secos.


Estava procurando uma música para postar para vocês que representasse o outono . Achei um fado e pensei ...esse tal e tal vão rir http://www.youtube.com/watch?v=vdCEn_wWm2I,

Ana Carolina , ah sei de algumas que iam amar outros odiar http://www.youtube.com/watch?v=CO9BRj3lGuw.
Pensei também no Djavan ih mas o que iam pensar ?
Se era para ser brega achei melhor esse kkkkkkk http://www.youtube.com/watch?v=wsoUfyLMVG8



A beleza está ai e eu nem tinha me dado conta do que me encanta nisso tudo. Tenho amigos que perderam seus cabelos, outras as suas formas, outros o seu rumo. Tenho tantos amigos que permanecem mudando o tempo todo, que gostam de coisas tão diferentes e quando nos encontramos nem ligamos para isso, ainda somos amigos.



domingo, 24 de maio de 2009

Ressignificar



A cigana (Magna) (Imagens de lixo) Valicia se banha com a roupa de domingo (Crianças de açúcar),



Hoje não tem história.


Vou copiar meu chefe estou pausada e não parada.


Fui ver a exposição de Vik Muniz no MASP. Quem estiver em SP vá lá, vale a pena.


É poesia em arte.


A cigana que transforma lixo em arte é linda e me mostra muito desse poder de transformação que esse povo nos ensina.


O que mais me impressionou foi a série que ele fez das crianças de açúcar. São retratos feitos com açucar. Crianças negras encantadoras, doces e felizes com pequenas coisas, vivem em uma plantação de cana-de-açucar no Caribe e com pais completamente sem esperanças.


Estou tentando ressignificar um montão de coisas por aqui ...
Vamos ??




quinta-feira, 21 de maio de 2009

O ócio




O ócio baiano tem muito a nos ensinar como um taxista um dia também me disse:
- Olha moça só ganha dinheiro quem tem tempo !

Com os velhos baianos ou com o taxista me pego pensando sobre isso. Será que é preciso tanto tempo assim? Depende. Só tem uma coisa que esmaga o tempo, o prazer.

“O tempo perguntou pro tempo, quanto tempo o tempo tem? O tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem”.

Quando o prazer tá na frente o tempo se ajeita, se amolda e se arruma de forma tão gostosa, que não há o que não se possa fazer.

Tempo é Chronos e Kairós, aprendi recentemente isso. Um é cronológico o outro é da oportunidade.

Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar meu bem querer... Eu não quero mas meu bem quer ! O prazer em fazer pelo outro também está ai.

Os baianos, acho que eles só queriam ficar ali vendo o mar quando quebra na praia e dizendo um pro outro :

- é bonito...é bonito

O taxista o que queria ?

Os cabeças de neve pareciam ser dois amigos proseando pela vida até a hora que uma inspiração aparecesse para escrever ou compor. Mas e os filhos, as mulheres e as contas pra pagar?

E o taxista o que queria? Uma ideia que entrasse pela porta entre uma corrida e outra para sair correndo dali. As mesmas contas, as mulheres e os filhos. Só o prazer que era diferente.

E as mulheres dessas figuras? Como transitavam com estas cabeças tão cheias de imaginação? A do taxista e dos artistas.

Ah as mulheres ! Falar delas ou por elas era o que mais gostavam. Foram tantas Tietas, Gabrielas, Donas Flores e Teresas Batistas que não eram mais cansadas de guerra do que a Zelia que era amada ou a Stella de muitos mares ou no silêncio das Marisas.
Ser mulher de Chicos, Jorges, Dôris não deve ser muito fácil. O ciúmes deve ser dos versos, das histórias que aparecem das observações no pelourinho ou nos trajetos cheios de trânsito da marginal.

Escrever sobre isso é que é uma tocaia das grandes em que me meti, é melhor eu me mandar antes de entrar em uma terra do sem fim.
Pra vc curtir naquela cadeira lá de cima ...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dona Preta


Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minha fonte, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho

Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim
Dona Preta
Achei por ai esses escritos tão bonitos , melhor hoje do que os meus .

terça-feira, 19 de maio de 2009

A ginástica



Estava decidida, ia começar a fazer ginástica naquele dia. Sabia que, na praça perto da sua casa, um grupo se reunia as 7 horas da manhã pontualmente. Acordou disposta, como quem vai mudar de vida naquele momento. A partir dali tudo seria diferente.

Colocou o agasalho, os tênis, prendeu o cabelo e pegou o elevador toda feliz. Já se sentia alguém da geração saúde, disciplinada, magra, cheia de pique. Ia descer pela escada para já começar bem...mas achou melhor não. Afinal não é preciso exagerar tanto! Equilibrio é o lance.

Ela morava no terceiro andar, no primeiro andar encontrou o Cosmo.

- Oi Có...bom dia !! Tudo bem ? Tô indo fazer ginástica e você viu como dia tá lindo? Ah adoro acordar já com sol de inverno, mesmo no frio.

- Ooi.

Cosmo parecia que estava do avesso. Ele ainda estava fazendo o nó da gravata e tinha uma escova de cabelo na mão, junto com a pasta de trabalho e o paletó. Tentava domar os poucos fios de cabelo que lhe restavam e insistiam em ficar um para cada lado.

Mas, claro que ela nem reparou e também não ia ligar para o mau humor do amigo naquela manhã. Eles se adoravam no período noturno, porque ele já havia falado o quanto era irritante encontrá-la cheias de idéias logo cedo.

Foi pela rua saltitante, dando bom dia para o dono da padaria, para o gari, o poste e quem ela encontrasse. Que felicidade!!

Encontrou um casal na rua, Seu Varella e a Janete, conhecidos de outras épocas que já estavam aposentados. Ela os via sempre pela janela, no mesmo horário todos os dias. Pararam para papear, surpresos, por vê-la.

Mais a frente encontrou o Joaquim da Ismaura, queria saber sobre os meninos, o que ela estava fazendo, o que tinha feito depois que saira da escola, o casamento e tudo mais. Nossa quanta história!

E ainda faltava uns quarteirões para chegar na praça. E o ritmo da caminhada? As respirações, o passo, o compasso ? Mas eram tantas histórias vividas por lá que não poderia deixar para trás.

- Nossa, a aula já tinha começado !! Surpreendeu-se ainda como se o tempo fosse esperar.

Quadra cheia, todos ou melhor todas enfileiradas repetindo uns movimentos, que um aparelho de som portátil amplificava. Eram umas ordens em japonês e todo mundo parecia entender.

Ela imaginou que com o tempo também entenderia.

A quadra ficava em um nível mais baixo da praça e acima das arquibancadas ficavam umas pessoas também fazendo ginástica, deveriam ser os atrasados ou novatos como ela. Todos vestiam uma camiseta branca, ela estava de preto, mas achou que isso não era um problema. Afinal o importante era ela ter decidido e estar lá.

Naquele dia, era melhor não entrar na quadra. Afinal não gostaria de, logo no primeiro dia, atrapalhar ninguém.

Resolveu ficar ao lado de um senhor japonês, que parecia muito compenetrado e que fazia os movimentos certinhos, um pouco robotizado, para o gosto dela, mas que também nem notaria a sua presença.

Ah que felicidade!! Ela ia fazendo os movimentos, tentando acompanhar. Afinal era a primeira vez, ela canhota, com alguns problemas de lateralidade e cooordenação, todos iam para um lado e ela para o outro.

Mas quem ira notar ?!!

Ela percebia que as pessoas sorriam o tempo todo dos exercícios, deveria fazer parte da metodologia, ela sorria também . Quanto mais os debaixo riam, mais ela ria também.

Ah que maravilha ! De graça, pertinho de casa e o pessoal tão simpático.

Já estava imaginando quais amigas poderia convidar, afinal era uma higiene mental! Deve ser uma ginástica, junto com a terapia do sorriso, no final deve ter a do abraço também, pensava ela muito animada. Iria se esforçar e ir todos os dias e ainda arrastar mais gente.

Começou a olhar um pouco mais e viu que as pessoas eram um pouco ou melhor bem mais velhas que ela. Mas também não era importante, não estava ali para desfilar de top ou faixas nos cabelos. Melhor também, porque afinal, não estava assim tão em forma.

Ao final da ultima série dos exercícios, todos bateram palmas e foram se juntando em pequenos grupos.

Ela muito entusiasmada, logo que acabou foi puxar papo com o senhor japonês, que estava ao seu lado.

- Bom dia, que maravilha não !! Adooorei !! o senhor vem sempre ?? Faz parte do Grupo ??

O japonês, com cara de poucos amigos e com muito sotaque, disse assim:

- Senhora, se quiser fazer ginástica, chegue na hora, fica na parte de baixo. Senhora atrapalhou toda minha aula, ficou fazendo tudo errado, todo mundo rindo !! Estragou tudo hoje.

E foi descendo as escadas da arquibancada, balançando a cabeça com os outros " mestres" que o seguiam.

Ihhhh ela pensou, acho que fu...

Foi dar uma volta na praça, ver as amoreiras e abraçar uma árvore, gargalhando de si mesma e descobrindo que tinha ganho o dia com tantas histórias novas para contar.

E a ginástica? Essa ficou para uma outra época, afinal, o que ela gostava mesmo eram de histórias.

sábado, 16 de maio de 2009

O Porco

O Nego é irmão da Tita, tinha uns 7 anos quando a Tita andava às voltas com o médico, a receita a pedra e o caminho.

Um dia ele estava na escolinha da Dona Lalá, mulher do bairro, que ensinava as crianças na sua casa mesmo. Já naquele tempo existiam pessoas que faziam algo pelos outros, mesmo quando o Governo não fazia.

Dona Lalá, pediu que todos desenhassem um bicho. Nego, era o mais novo, sardento, magrelo e tinha os mesmos olhos apertadinhos da Tita. O menino, pensou ...pensou... e não achava que poderia desenhar tão bem, nada.
Pensou no cavalo e logo desistiu. Cavalo tinha formas que ele não sabia fazer. Pensou no cachorro, hum ... rabiscou e nada saía parecido com o cachorro que ele queria.

Ah ! mas tinha um que não sairia errado. Um porco. Afinal eram duas bolas, uma pequena para a cabeça e uma grande para o corpo.

Nego foi desenhando todo empolgado, o rabo saiu fácil, porque era uma voltinha. Colocou as orelhas, os olhos, o focinho e Dona Lalá começou a apressá-los que a aula estava acabando e o Nego ainda no capricho.

- Vamos Nelson, vamos ... Dona Lalá falava Nelson, da forma mais bonita. Neeelllllsaooon.

- Já tô acabando , já tô acabando Dona Lalá . Como será que era o nome da Dona Lalá? Pensava Nego, enquanto isso. Seria Eulália? Laurinda ? Laura?

- Nelson, vou ter que sair. Anda menino!!

Nelson, se apressou com o desenho, faltava as pernas, terminou correndo, guardou o lápis, a caderneta, o resto do lanche. O lanche do Nego era pão com manteiga, era isso que ele contava pra todo mundo. Mas na verdade, era banana esfregada no pão. Porque na sua casa não tinha manteiga e os meninos sempre caçoavam dele, Chamando-o de "Nelson Banana". Todo dia ele levava de lanche um pão e uma banana.Então, ele resolveu passar a banana no pão e assim todos pensariam que era manteiga. E pronto!

- Olha Dona Lalá o meu desenho ?! Ao lado da dona Lalá estava o Almir. Oh menino chato aquele! Quando ele viu o desenho já começou a gritar:


- Venham ver o porco do Nelson Banana, ele fez um porco com seis pernas. AHHaHHH !!

- Seis pernas ?!! Como assim?? Uma, duas, três, quatro, ci..n..co ...se.. e..i..s. Nelson sentia as bochechas corar e a vontade de entrar pelo primeiro buraco da terra.

Dona Lalá, que era doce como bala, pegou a caneta, olhou bem nos olhos do Nego, que já estava do tamanho de uma formiga e escreveu como se estivesse pintando. NOTA 10

- Nota 10! Nota 10! Eu tirei nota deizzzzzzzzz






Saiu Nego em disparada com o pedaço de papel na mão descendo a rua Corredeira, até chegar na sua casa, aquela inacaba, daquele pai doente, o da Tita que tinha dores, que o médico não deu a receita, que ela encontrou a pedra no caminho e achou o remédio. É . O mesmo pai.
- Pai, pai, olha !! Olha fiz um desenho de um porco com 6 pernas e a professora me deu nota 10. Falou o Nego, todo malandro, contando vantagem e muito surpreso com tudo que tinha acontecido.

O pai que era mais malandro do que ele, respondeu de pronto:

- Oh meu filho! Da próxima vez faz com 8 pernas ai ela te dá 15.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cartola


Quem será que tirou esse coelho da Cartola?
Que tipo de seres são esses que não aceitam a condição que vieram habitar essa Terra. Resolvem, por si só, fazer uma revolução na ordem dos letrados.
Feinho, pobre, negro e cheio de charme encantava o mulherio e arrastava seguidores, que o chamavam de mestre. Mestre de si mesmo deve ser o ingrediente, sabia do que gostava, o prazer de fazer por fazer, de fazer junto e fazer brilhar os olhos de quem parava para ouvir. Via valor no seu trabalho e nos versos mais do que bem feitos.
O mundo é um moinho! E não ser espremido por ele era o grande conselho à filha perdida que ele chamava de amor e de querida. Mesmo quando as rosas não falam, bate outras vez com esperanças no seu coração.
Esperança naquilo que criaste. Acompanha, confia, segue e deixa seguir!
Nossas idéias são do mesmo pano.
Dois bicudos não se beijam. Então quem sabe mais e pode mais tem que dar mais. Essa é a lei entre pais e filhos.
Até a vista, eu vou andando e vocês ficam em ótima companhia.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Romã





Os gregos antigos faziam oferendas à deusa Afrodite, a deusa do amor, com romãs, porque eles acreditavam que a romã era a fruta que alimentava o amor. Outros consideram a romã a fruta da sorte, comem romãs na passagem de ano e guardam algumas sementes para ter sorte o ano inteiro. Eu atualmente ando usando romã quando falo tanto que um sprayzinho da fruta, resolve muito.

Mesmo antes dela virar moda e famosa na minha casa tinha um pé, meio esquecido no fundo do quintal. Desde sempre gosto dela, como gosto de lembrar da minha avó abrindo aquela fruta, meio flor, e retirar aqueles pequenos rubis constituía uma aventura. Eu me encantava mais do que comer aquelas pequenas jóias. O que não me atrai nada na jaca ou na fruta do conde, que tem os mesmos mistérios escondidos.

Não sei o cheiro que tem a Romã, mas não tenho dúvidas da sua cor. Vermelho rubi transparente. Sei até como esses rubis são embalados, um a um, igual a gente faz quando algo é frágil. Plástico bolha da natureza.

Não gosto do cheiro, do formato, da cor da jaca. Nunca comi nem sei que gosto tem. O conde que me desculpe, mas tem uma areia e uma malemolência estranha.

Tenho descoberto que as frutas tem uma experiência estética interessante. A carambola também tem isso quando cortadas, viram estrelas que provocam um sabor diferente. Comer estrelas é um delirío.
Minha avó acho que já sabia desse lado lúdico das frutas e nos dava de presente formas diferentes de chupar laranja, cortando para cada neto de um jeito diferente. Com tampinha, com gominhos, com duas tampas, com branquinho, sem branquinho. Comer a fruta virava brinquedo na refeição. Entretenimento puro junto com educação alimentar.
Quanta diversão simples, como tínhamos tempo !!
Senti o maior prazer em colher o meu primeiro romã, agora na minha casa adulta. Foi legal também perceber que também posso ter tempo para separar cada rubizinho e com isso provocar todas essas lembranças. A maravilha maior é saber que, se eu cuidar direitinho da romanzeira, vou poder colher com meus netos e descobrir com eles um grande garimpo.
Com os netos? É porque com os meus filhos...ih não tive tempo. Mas ainda tem jeito.
Como a minha amiga Claudia M diz que sou meio curandeira, segue abaixo as propriedades do romã...rs
Deixa pra lá gente, o mais importante é que ele alimenta o amor.
Vamos ver quem chega primeiro no google?




terça-feira, 12 de maio de 2009

A Raiva


Raiva é explosão
Saudade é convulsão
Raiva é latitude
Saudade é longitude
Raiva é espirro
Saudade é remédio pro espiríto
Raiva vem dos outros
E vai embora
Saudade vem de nós
E demora...
Raiva é punk
Saudade é brega
Raiva fere
Saudade dói

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Mãe


Pizza, pastel, esfiha, arroz, feijão, macarrão, quem conheceu dona Celiza, amou mais do que suas delicías. Casa cheia, muita comida e todos juntos e misturados, foi assim que fomos criados. No meio das tias e dos amigos, minha casa era repleta de gente que chegava a toda hora.

De seios fartos, olhos grandes e boca pequena não deixava de falar o que pensava e sua sinceridade e franqueza, quase que inconvenientes, eram desculpadas pelo seu jeito simples e acolhedor.

Quanta sabedoria tinha Dona Celiza!! Já conhecia da cosmetologia natural, do reaproveitamento e da reciclagem. Claro que tudo a seu modo !! Das cascas das frutas, legumes e água de arroz fazia seus balsámos de beleza para a pele e adubos para as plantas, se era bom pra um poderia ser bom para o outro, dentro da lógica dela. Tudo me parecia muito maluco e bizarro naquela época, ver minha mãe com mamão e pepino no rosto, era no mínimo engraçado. Me vi fazendo isso inúmeras vezes depois de mais velha para surpresa dos meus amigos, que se admiravam que eu também abraçava árvore.

Nada era desperdiçado na minha casa! Tudo podia virar alguma coisa para alguém. E isso poderia ser para cachorro, gente, terra ou qualquer que fosse a coisa, ela inventava uma utilidade ou um destino. Marcia e eu, sem saber, aprendemos isso com ela, tudo tem jeito ou a gente dá um jeito. Longe de avareza ou da mesquinhês, era generosidade e gratidão. Ninguém nunca saia da minha casa sem algo, de um pratinho, uma bronca ou um conselho e carinho, tudo era repartido. As broncas e os conselhos eram distribuídas para irmãos, cunhados,vizinhos, filhos ou amigos dos filhos, ninguém escapava.

Ela era canhota como eu e não se cansava de me dizer o quanto a minha vida já era mais fácil do que a dela tinha sido. O que não me confortava nem um pouco quando eu tentava abrir uma lata e o abridor insistia em não me ajudar. Mas isso também reaproveitei, hoje tenho duas mãos boas e insisto em dizer para o meu filho, canhoto, que é só uma questão de jeito e adaptação.

De cabelos negros, pele morena, sorriso franco, histórias engraçadas e tristes, de saúde frágil minha mãe foi cedo deixando ensinamentos para uma vida toda.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

As Amigas

Pra gargalhar
A outra pra conversar
Uma ainda para confidenciar
algumas para passear
outras para relembrar
tinha também algumas para chorar
caminhar, comer e rezar
as vezes tinha para contar, rir e comprar
outras para admirar
e tem aquelas para trabalhar
e sempre tem aquelas para amar
amigas para sonhar

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tecendo a manhã ...dica do Beto



Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito e o lance a outro;

de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro;

e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.
João Cabral de Melo Neto


rs que lindo isso ..e como o galo já já vai cantar ... eu vou dormir

O irmão

Ele já nasceu maior que o normal. Vinha reinar em uma casa com duas menininhas que também eram muito diferentes.
No berçario já se sabia que bitelo de menino seria aquele. O pai achou um pouco exagerado, a mãe já sabia que era dele que ela ia mais gostar. Então o pai teve que ir aprendendo isso com o tempo.
O menino aos 4 já perdeu os dentes, banguelo, barrigudo e engraçado em um topete que o pai insistia em engomar. Teve épocas de ficar tão cumprido que parecia um bambu que iria envergar. Não envergava, amava, dançava e aprontava.
Era tão querido por todos que arrastava um monte de amigos pra casa, que vivia cheia deles.
As irmãs cresciam e as amigas também
Uma casou e ele olhava
A mãe se foi e ele olhava
A outra
o pai
e ele nada
Amor esse que transbordava
Que esvaziava
que matutava
Quando achavam que ia, ele recuava
E ele foi procurando caminhos mas não achava
quando encontrava, andava
Ele foi ficando cada vez maior, maior que a boca, que a barriga
foi ai que todos enxergavam
coração como aquele não se encontrava
E ainda é tempo de recordar do tempo que me levava pra passear .
http://www.youtube.com/watch?v=s432XF4_gX8

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pégaso

Quantos de nós já não quisemos ser o que não era ... quimeras

http://www.youtube.com/watch?v=EH-cJCTn_F4

aproveitem !!

roda de fogo





Magia
Labareda trouxe
fogo na minha vida
rodar a roda do fogo
nos cabelos
na vontade
no ser

domingo, 3 de maio de 2009

A Tia

Seu nome era Adelina, que é um diminutivo de Adélia e quer dizer " amiga da nobreza". Mas isso acho que ninguém sabia e a chamavam de Tita.

Tita era uma menina que conheceu as dores da vida muito cedo. Aos 12 anos seu pai, um filho de italiano, adoeceu. Era a tal doença ruim. Ninguém sabia o quanto ruim era essa doença, mas Tita sabia que algo de muito grave estava acontecendo.

Um dia, seu pai estava com muitas dores e sua mãe pediu que ela fosse até o médico buscar uma receita de algum remédio que pudesse aliviar.

Tita, que parecia mais idade do que tinha, olhos espertos, fala corrida que emenda um assunto em outro e gestos largos. Foi caminhando muito rápido, passos rápidos que ajudavam a não pensar direito nas coisas que poderiam entristecer. Sempre procurava lembrar uma música que alegrasse a caminhada que era longa.

Chegando no consultório do Dr Bertolocci, médico italiano, Tita falou daquele seu jeito muito espontâneo e corrido :

- Doutor, meunomeé Adelina, mas todo mundome chama deTita,sou filhado DemetrioPontalti e minhamãe que é a Dona Amáliamas todomundo chamaelade donaNEnê pediupara o senhor dar uma receita para o meu pai que está com muitas dores hoje.

O médico, diante da sua impotência e imponência, desconsiderou que aquela pequena só tinha 12 anos e disse pronta e duramente:

- Menina!! não tem remédio nenhum mais para o seu pai, agora é só esperar !!

O que o italiano não esperava era que aquela menina cresceria tanto em tão pouco tempo.

Tita agigantou-se diante do capa branca:

- Olha aqui doutor!! Meu pai está com dor e só vim lhe pedir uma receita de um remédio. É só isso que vim fazer aqui . O senhor não deveria dizer isso para mim. Vou rezar para que o senhor nunca tenha isso que ele tem. A menina disse isso com olhos tão firmes, com um tom que congelou aquele médico. O médico resmungou algo para a secretária que levou Tita para fora.

Tita viu a porta se fechar e saiu caminhando. Não tão rápido e sem música nenhuma. Quando viu já estava na rua perto dos trilhos do bonde. Longe daquelas pessoas permitiu que as lágrimas pulassem sem controle dos pequenos olhos escuros, que ficavam apertadinhos quando ela sorria.

Chorava de raiva, de ódio daquele médico que desistia do seu pai com quem ela ainda tinha tantas coisas para conversar, aprender e dizer. Era ainda um choro contido, preso como seus cabelos crespos e escuros que ela usava presos para tras para parecer mais moça do que era.

O choro e o passo era tão duros que Tita nao percebeu que tinha uma pedra no caminho e que no seu caminho tinham muitas pedras.

pedra
caminho
upa
upa
upa
tooooombo, receita , lama , papel ...drama

Porque quando a gente cai é a tampa do joelho que sai? Saiu junto com o choro agora solto, cansado e do fundo da alma. Sentou e chorou.

Não seria um médico tosco e um joelho roxo que interromperia quem tinha um outro olhar para a dor. Levantou-se enxugou as lágrimas e viu naquela poça de lama um plano que precisava.

Chegou em casa, inacabada ainda.Respirou fundo e só Esquisito, o cachorro, veio encontrá-la com tanta preguiça que ela nem olhou para ele. Foi direto para o tanque, lavar os joelhos, a raiva e as marcas da pedra no caminho.

ui..ai..ui ...Como as marcas do choro estavam no vermelho do rosto, tinha que falar rápido, para que os seus olhos não a traissem e começasse a brotar de novo aquelas lágrimas gordas e pulantes .

- Pai...pai olha o tombo que tomei !! E já começou a contar cada datalhe do tombo, a pedra no caminho, a cor da terra, a roupa que tinha sujado e arrumou uma forma da história ficar tão engraçada, tão engraçada que como todos já conheciam esse jeito de falar, que contava primeiro tudo que estava em volta para depois dizer o que acontecia, que seu pai esquecera um pouco da dor e sorria do jeito da menina, a única que ele tinha.

- Olha pai! não precisa maisse preocupar queaquele médico, tão simpáticotão dedicado disse que esse remédinho, que eleteve a gentilezade medar, vai fazerpassar a sua dor rapidinho. Só um minutinho que vou trazer para o senhor tomar.

Na cozinha, meio copo d´água e gotas de um elixir de sabedoria e amor aos 12 anos.

História da Tia Tita,80 , que tem sempre bons quitutes recheados de histórias que ela continua a contar o entorno antes,o durante e agora o depois.
meu aprendizado nessa " nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra ..."