Seu nome era Adelina, que é um diminutivo de Adélia e quer dizer " amiga da nobreza". Mas isso acho que ninguém sabia e a chamavam de Tita.Tita era uma menina que conheceu as dores da vida muito cedo. Aos 12 anos seu pai, um filho de italiano, adoeceu. Era a tal doença ruim. Ninguém sabia o quanto ruim era essa doença, mas
Tita sabia que algo de muito grave estava acontecendo.
Um dia, seu pai estava com muitas dores e sua mãe pediu que ela fosse até o médico buscar uma receita de algum remédio que pudesse aliviar.
Tita, que parecia mais idade do que tinha, olhos espertos, fala corrida que emenda um assunto em outro e gestos largos. Foi caminhando muito rápido, passos rápidos que ajudavam a não pensar direito nas coisas que poderiam entristecer. Sempre procurava lembrar uma música que alegrasse a caminhada que era longa.
Chegando no consultório do Dr
Bertolocci, médico italiano,
Tita falou daquele seu jeito muito espontâneo e corrido :
- Doutor,
meunomeé Adelina, mas todo
mundome chama
deTita,sou
filhado DemetrioPontalti e
minhamãe que é a Dona
Amáliamas todomundo chamaelade donaNEnê pediupara o senhor dar uma receita para o meu pai que está com muitas dores hoje.
O médico, diante da sua impotência e imponência, desconsiderou que aquela pequena só tinha 12 anos e disse pronta e duramente:
- Menina!! não tem remédio nenhum mais para o seu pai, agora é só esperar !!
O que o italiano não esperava era que aquela menina cresceria tanto em tão pouco tempo.
Tita agigantou-se diante do capa branca:
- Olha aqui doutor!! Meu pai está com dor e só vim lhe pedir uma receita de um remédio. É só isso que vim fazer aqui . O senhor não deveria dizer isso para mim. Vou rezar para que o senhor nunca tenha isso que ele tem. A menina disse isso com olhos tão firmes, com um tom que congelou aquele médico. O médico resmungou algo para a secretária que levou
Tita para fora.
Tita viu a porta se fechar e saiu caminhando. Não tão rápido e sem música nenhuma. Quando viu já estava na rua perto dos trilhos do bonde. Longe daquelas pessoas permitiu que as lágrimas pulassem sem controle dos pequenos olhos escuros, que ficavam
apertadinhos quando ela sorria.
Chorava de raiva, de ódio daquele médico que desistia do seu pai com quem ela ainda tinha tantas coisas para conversar, aprender e dizer. Era ainda um choro contido, preso como seus cabelos
crespos e escuros que ela usava presos para
tras para parecer mais moça do que era.
O choro e o passo era tão duros que
Tita nao percebeu que tinha uma pedra no caminho e que no seu caminho tinham muitas pedras.
pedra
caminho
upa
upa
upa
tooooombo, receita , lama , papel ...drama
Porque quando a gente cai é a tampa do joelho que sai? Saiu junto com o choro agora solto, cansado e do fundo da alma. Sentou e chorou.
Não seria um médico tosco e um joelho roxo que interromperia quem tinha um outro olhar para a dor. Levantou-se enxugou as lágrimas e viu naquela poça de lama um plano que precisava.
Chegou em casa, inacabada ainda.Respirou fundo e só Esquisito, o cachorro, veio encontrá-la com tanta preguiça que ela nem olhou para ele. Foi
direto para o tanque, lavar os joelhos, a raiva e as marcas da pedra no caminho.
ui..ai..ui ...Como as marcas do choro estavam no vermelho do rosto, tinha que falar rápido, para que os seus olhos não a
traissem e começasse a brotar de novo aquelas lágrimas gordas e pulantes .
- Pai...pai olha o tombo que tomei !! E já começou a contar cada
datalhe do tombo, a pedra no caminho, a cor da terra, a roupa que tinha sujado e arrumou uma forma da história ficar tão engraçada, tão engraçada que como todos já conheciam esse jeito de falar, que contava primeiro tudo que estava em volta para depois dizer o que acontecia, que seu pai esquecera um pouco da dor e sorria do jeito da menina, a única que ele tinha.
- Olha pai! não precisa
maisse preocupar
queaquele médico, tão
simpáticotão dedicado disse que esse
remédinho, que
eleteve a
gentilezade medar, vai
fazerpassar a sua dor
rapidinho. Só um
minutinho que vou trazer para o senhor tomar.
Na cozinha, meio copo d´água e gotas de um elixir de sabedoria e amor aos 12 anos.
História da Tia
Tita,80 , que tem sempre bons
quitutes recheados de histórias que ela continua a contar o entorno antes,o durante e agora o depois.
meu aprendizado nessa " nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra ..."